RIO — O sócio de uma das empresas que levou caminhões às ruas da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, nos atos em favor do presidente Jair Bolsonaro, nesta terça-feira, é um dos diretores da Aprosoja, entidade de produtores alvo do inquérito que apura o financiamento das manifestações antidemocráticas do Dia da Independência, que tiveram o Supremo Tribunal Federal (STF) como alvo principal. Três dias antes do 7 de setembro, o ministro Alexandre de Moraes havia determinado o bloqueio das contas bancárias da Aprosoja-MT e da Aprosoja Brasil para evitar apoio financeiro a atos antidemocráticos. A presença de caminhões de transportadoras e produtores de soja foi revelada pela colunista Malu Gaspar, do GLOBO .
O empresário José Fava Neto é diretor regional da Aprosoja em Goiás, entidade que reúne produtores do Centro-Oeste e de outras regiões do país, e um dos sócios da empresa Agrofava, gigante do setor de importação e exportação de soja e sementes. Parte dos caminhões que estiveram na manifestação em Brasília tinham adesivos do Movimento Brasil Verde-Amarelo, grupo financiado pela Aprosoja, que é alvo de inquérito no Supremo, e da própria empresa que Fava Neto administra.
Entenda:
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omo Alexandre de Moraes se tornou 'inimigo nº 1' de Bolsonaro
A decisão de Moraes de bloquear as contas da Aprosoja foi rebatida pela entidade, que disse "jamais" ter financiado, apoiado ou convocado "a população para atos criminosos e violentos". O texto sustenta ainda que "a entidade preza pelos preceitos legais e constitucionais."
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Nos atos em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro fez uma ameaça ao presidente do STF, ministro Luiz Fux, durante discurso para os manifestante e voltou a atacar o ministro Alexandre de Moraes. Sem citar os nomes dos dois ministros, ele disse que, se Fux não enquadrar Moraes, "esse poder pode sofrer aquilo que nós não queremos".
Procurados pelo GLOBO, a Aprosoja e José Fava Neto ainda não responderam.
Financiador da bancada ruralista
Além de dirigir a Aprosoja em Goiás, Fava Neto mantém uma relação de longa data com o agronegócio. O empresário financiou a campanha do atual presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Alceu Moreira (MDB-RS), um dos principais nomes da bancada ruralista na Câmara dos Deputados.
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Fava Neto doou R$250 mil para a campanha do deputado nas eleições de 2014 e R$50 mil, em 2018.
Alceu Moreira é um dos aliados do presidente Jair Bolsonaro na defesa de pautas ligadas ao agronegócio na Câmara e dentro de seu partido, o MDB. Moreira foi homenageado pelo presidente na cerimônia de posse como líder da FPA, que contou com a participação da ministra da Agricultura Tereza Cristina (DEM).